Após 48 horas de caos e protestos, a crise no transporte público de Fortaleza chegou ao fim. Nesta quarta-feira (1º), as 25 linhas de ônibus suspensas voltaram a circular, normalizando a rotina de milhares de fortalezenses.
A solução veio após um acordo entre a Prefeitura de Fortaleza e o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (Sindiônibus), que pôs fim a uma paralisação que pegou milhares de usuários de surpresa na última segunda-feira (29).
O acordo foi catalisado por uma ação firme do poder público. Na terça-feira (30), a Prefeitura notificou extrajudicialmente o Sindiônibus, estabelecendo uma condição inegociável: qualquer diálogo sobre subsídios só ocorreria com o retorno imediato de todas as linhas cortadas. A estratégia funcionou.
O Fim do Impasse: Como o Acordo Foi Conduzido
Em nota oficial, o Sindiônibus confirmou que, a partir desta quarta-feira, a operação dos ônibus "voltará a seguir os parâmetros definidos pela Etufor para cada linha".
Isso significa que não apenas as 25 linhas suspensas retornaram, mas também as 29 linhas que tiveram a frequência reduzida voltaram ao seu padrão original de operação.
O movimento de suspensão das linhas foi um ato de pressão do sindicato por um aumento no subsídio municipal, atualmente fixado em R$ 16 milhões mensais.
O Sindiônibus alega que necessita de, pelo menos, R$ 23 milhões para cobrir custos operacionais, gratuidades e evitar um novo aumento na tarifa para o usuário.
A Crise Estrutural: Os Números que Explicam a Paralisação
O problema, no entanto, é muito mais profundo do que uma disputa pontual por recursos. O transporte por ônibus em Fortaleza enfrenta uma crise estrutural há anos, com um dado que salta aos olhos:
Em uma década, o sistema perdeu mais da metade de seus passageiros – uma queda drástica de 54,7%.
Quadro Comparativo: A Queda no Número de Passageiros
Ano | Passageiros/Dia | Contexto |
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2015 | 1,15 milhão | Ápice do uso do transporte público na capital. |
2023 | Aprox. 520 mil | Queda acentuada pós-pandemia, crescimento de apps e crise econômica. |
Segundo Dimas Barreira, presidente do Sindiônibus, as linhas suspensas afetavam entre 9 mil e 10 mil passageiros. A situação ficou ainda mais crítica com o encerramento das atividades da empresa Santa Cecília em agosto, responsável por 31 linhas, que precisaram ser absorvidas por outras empresas do consórcio.
Quadro de Dicas e Curiosidades Pós-Acordo
Dica/Curiosidade | Explicação |
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Confirme no App | Antes de sair de casa, verifique no aplicativo "Meu Ônibus Fortaleza" se sua linha já está circulando normalmente. |
O que é Subsídio? | Valor repassado pela Prefeitura para cobrir a diferença entre o custo real da tarifa e o valor pago pelo usuário, mantendo a passagem mais barata. |
E as 29 linhas com frota reduzida? | O acordo também restabeleceu a frota total dessas linhas. Fique atento à frequência, que deve voltar ao normal. |
Transporte Complementar | Durante a crise, o prefeito Evandro Leitão sugeriu o uso de vans e tá-lotes como alternativa. Eles permanecem como opção secundária. |
E Agora? O Que Esperar do Futuro do Transporte em Fortaleza?
O acordo restabeleceu a normalidade, mas não resolveu a questão de fundo.
O presidente do Sindiônibus, Dimas Barreira, afirma que o déficit mensal chega a R$ 9 milhões e que algumas empresas já não conseguem mais se manter, destacando a necessidade de uma solução que envolva também o governo federal.
Enquanto isso, os mais de 500 mil passageiros diários podem respirar aliviados com o fim de um pesadelo logístico de dois dias.
No entanto, a crise revelou a fragilidade do sistema e a urgência de um debate mais amplo e estruturante sobre o futuro da mobilidade urbana em Fortaleza, que vá além de acordos emergenciais e enfrente o declínio constante no número de usuários e a saúde financeira do setor.
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