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Bate Volta Fortaleza e Notícias

Barra do Ceará: O Berço Esquecido que Nunca Deixou de Ser Fortaleza

 População da Regionais: 

Aproximadamente 63.000 habitantes

Bairro Mais Popular: Barra do Ceará - pelo valor histórico fundador e identidade cultural única

Vista Aérea Barra do Ceará


O Primeiro Forte: Quando a História do Brasil Poderia Ter Sido Outra

Longe de ser apenas mais uma regional periférica, a Barra do Ceará guarda o segredo mais bem guardado da história brasileira

Foi aqui, em janeiro de 1500, três meses antes da chegada de Cabral a Porto Seguro, que o navegador espanhol Vicente Yáñez Pinzón desembarcou, mais precisamente na foz do Rio Ceará. 

Embora a historiografia oficial tenha privilegiado o feito português, documentos espanhóis do século XVI atestam: Fortaleza poderia ter sido o primeiro núcleo europeu  em território brasileiro.

Curiosidade Histórica Revolucionária: Em 1892, o historiador cearense Tomás Pompeu de Souza Brasil publicou pesquisas detalhadas baseadas nos arquivos de Sevilha, provando a chegada de Pinzón. 

Em sua homenagem, uma das principais avenidas da cidade leva seu nome. A polêmica histórica rendeu debates acalorados em círculos acadêmicos e  institutos históricos, no início do século XX.

O Forte Schoonenborch: A Herança Holandesa que Moldou a Cidade

Forte Schoonenborch na foz do Rio Ceará /foto: Jaqueline A.Cordeiro


O marco definitivo da ocupação europeia ocorreu em 1649, quando os holandeses da Companhia das Índias Ocidentais, sob o comando de Matias Beck, construíram o Forte Schoonenborch na foz do Rio Ceará. 

O nome homenageava Frederik Schoonenborch, um importante político holandês ligado à administraçãocolonial. A estrutura, feita de madeira e terra batida, tinha forma pentagonal e abrigava cerca de 300 soldados.

Curiosidade Arqueológica: Em 2008, durante obras de dragagem no rio, foram encontrados artefatos holandeses do século XVII - incluindo fragmentos de cerâmica, moedas e uma bala de canhão - que comprovam a localização exata do forte original. 

Os objetos estão hoje no Museu do Ceará, mas a maioria dos fortalezenses desconhece este tesouro histórico em seu quintal.

Igreja Nossa Senhora da Conceição - Ceará / Foto:tripadvisor.com.br


A Igreja Mais Antiga: Fé e Resistência em Pedra e Cal

Em 1680, os portugueses - que haviam retomado a região em 1654 - ergueram a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, a construção religiosa mais antiga ainda existente em Fortaleza.

Sua construção em taipa e pedra durou quase dez anos e utilizou mão de obra indígena e escrava africana.

Curiosidade Arquitetônica: A igreja possui um sinário do século XVIII (estante onde ficam os sinos) considerado único no Nordeste brasileiro. 

Durante as escavações para restauro em 1995, foram encontradas sob o piso 57 ossadas humanas de indígenas e primeiros colonizadores, criando um pequeno cemitério histórico que pode ser visitado mediante agendamento.

A Lenda do Jacaré Gigante: Quando o Folclore Explica a Geografia

O nome "Jacarecanga" - bairro vizinho que faz parte da regional VIII - vem do tupi "îakaré-kanga" e significa literalmente "toca de jacarés". 

A lenda local fala de um jacaré gigante chamado "Boatão" que aterrorizava os pescadores no século XVIII. 

Dizem que o réptil media mais de 6 metros e atacava canoas, sendo finalmente abatido por um pescador corajoso chamado Manuel.

Curiosidade Folclórica: Em 2017, durante as obras do VLT, trabalhadores encontraram às margens do rio um crânio fossilizado de jacaré-açu que media aproximadamente 5 metros em vida, dando certo crédito científico à lenda secular. 

O fóssil está exposto no Museu de Paleontologia da URCA.

A Ponte Metálica: A Ousadia da Engenharia nos Anos 1940

Inaugurada em 14 de setembro de 1945 pelo interventor Francisco de Menezes Pimentel, a Ponte Metálica sobre o Rio Ceará foi um feito extraordinário para a época. 

Com 320 metros de extensão, foi fabricada na Inglaterra pela Dorman Long & Co - a mesma empresa que construiu a Ponte do Sidney HarbourBridge - e montada peça por peça no local.

Curiosidade da Construção: 

Para testar a resistência da ponte antes da inauguração, o engenheiro chefe Arthur Santos ordenou que 16 caminhões carregados com areia (simulando um tráfego intenso) permanecessem estacionados sobre ela por 48 horas. 

O teste foi tão rigoroso que estabeleceu novos padrões para a engenharia brasileira.

O Porto das Jangadas: O Berço da Cultura Marítima Cearense

Antes da construção do Porto do Mucuripe, a Barra do Ceará era o principal ponto de embarque e desembarque da capital. 

As jangadas chegavam carregadas de peixe, enquanto pequenas embarcações comerciais traziam produtos do interior. 

Colônia de Pescadores Z-1, fundada em 1920, é a mais antiga do estado ainda em funcionamento.

Curiosidade Cultural: Foi na Barra do Ceará que surgiu o estilo musical "Baião de Pau", precursor do forró pé-de-serra, criado pelos pescadores que batiam ritmos em cascos de jangada durante as noites de lua cheia. 

O ritmo quase desapareceu, mas vem sendo recuperado por pesquisadores da UFC desde 2015.

O Abandono e a Resistência: Uma História de Duas Realidades

A partir dos anos 1960, com a construção do Porto do Mucuripe e a valorização do litoral leste, a Barra do Ceará entrou em processo de decadência econômica

As famílias tradicionais migraram para bairros mais valorizados, e o patrimônio histórico começou a se degradar. 

As ruínas do Forte de Nossa Senhora dos Prazeres (sucessor do Schoonenborch) estão em estado crítico, cobertas por vegetação e lixo.

Curiosidade Triste: Em 1982, um incêndio de origem suspeita destruiu o Arquivo Histórico da Barra, que guardava documentos desde 1700, incluindo registros de batismo de indígenas e cartas dos primeiros missionários. 

Apenas 30% do acervo foi salvo, hoje guardado precariamente na sacristia da igreja.


comunidades quilombolas e indígenas


Comunidades Tradicionais: Os Guardiões da Memória

Apesar de tudo, a Barra mantém vivas comunidades quilombolas e indígenas urbanizada que resistem há gerações. 

Comunidade do Trilho, formada por descendentes de trabalhadores da Estrada de Ferro de Baturité, preserva tradições únicas, como a Festa do Divino,  com características diferentes das demais regiões da cidade.

Curiosidade Antropológica: Os moradores mais antigos mantêm um dialeto peculiar híbrido, que mistura termos indígenas (principalmente da língua tremembé), palavras do português arcaico e expressões holandesas remanescentes do período de ocupação. 

Linguistas da UFC catalogaram mais de 200 palavras únicas ainda em uso.

O Rio Ceará: Testemunha e Vítima

Rio Ceará, que dá nome ao estado, tem sua foz nesta regional. 

Com 340 km de extensão, era chamado pelos indígenas de "Siará" ("canto da jandaia"). 

Hoje, sofre com grave poluição industrial e doméstica, mas projetos de revitalização começam a mostrar resultados.

Curiosidade Ambiental: Em 2020, biólogos descobriram que um trecho preservado do mangue na foz abriga a única colônia de guarás-vermelhos em área urbana do Nordeste. 

As aves, que estavam localmente extintas desde os anos 1970, retornaram naturalmente, tornando-se símbolo da resistência ambiental.

Renascimento Cultural: O Novo Capítulo

Nos últimos anos, coletivos artísticos como o Grupo Teatro da Barra e o Coletivo Fotográfico Olho d'Água têm trabalhado para ressignificar a história local

Museu Comunitário da Barra do Ceará, criado em 2018 por moradores, guarda em sua coleção objetos que contam a história não oficial da região.

Curiosidade Contemporânea: Desde 2019, acontece anualmente o Festival Barra das Artes, que reúne mais de 100 artistas locais e atrai cerca de 5.000 visitantes. 

O festival inclui apresentações nos próprios sítios históricos, criando uma experiência imersiva única.


Quadro de Datas Comemorativas - Regional VIII

BairroData SignificativaEvento PrincipalCuriosidade Adicional
Barra do CearáJaneiro de 1500Chegada de PinzónPrimeiro desembarque europeu comprovado
Barra do Ceará1649Forte SchoonenborchNome do político holandês G. Schoonenborch
Barra do Ceará1680Igreja da ConceiçãoSinário único do século XVIII
Barra do Ceará14/09/1945Ponte MetálicaTestada com 16 caminhões por 48h
JacarecangaSéculo XVIIILenda do BoatãoFóssil de jacaré de 5m encontrado em 2017
Cristo Redentor15/08/1950FundaçãoPrimeira capela de madeira em 1948
Vila Ellery1962UrbanizaçãoNome em homenagem ao engenheiro Ellery
Genibaú1970OcupaçãoNome indígena: "rio das furnas"

Destaques Populacionais da Regional VIII:

  • Barra do Ceará: ~35.000 habitantes (núcleo histórico)

  • Jacarecanga: ~25.000 habitantes (área residencial mista)

  • Cristo Redentor: ~15.000 habitantes (comunidade consolidada)

  • Genibaú: ~12.000 habitantes (ocupação mais recente)

  • Demais bairros: ~8.000 habitantes

A Regional VIII Barra do Ceará é muito mais que números ou periferias - é a certidão de nascimento esquecida de Fortaleza

Cada pedra das ruínas do forte, cada traço da igreja secular, cada viga da ponte histórica conta uma história que não pode ser perdida. 

Em seus 95 mil habitantes, carrega a memória viva de uma cidade que nasceu aqui, às margens do rio, muito antes de se espalhar pelas dunas. 

Proteger este patrimônio não é apenas preservar o passado - é garantir que Fortaleza não perca sua identidade, enquanto celebra seus 300 anos.

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